OPINIÃO: Inovação responsável: consequências, valores e vozes que orientam novos comportamentos

Inovação responsável não é um novo tipo de inovação. É um comportamento que posiciona a empresa a escalar com legitimidade

(*) Kadígia Faccin

Imagem gerada por IA

A Anthropic, criadora do chatbot Claude, está sendo processada por três escritores na Califórnia por usar livros sem autorização no treinamento do modelo e até recorrer a cópias piratas.

Situações como essa mostram o quanto decisões estratégicas, especialmente no uso de tecnologias emergentes, precisam estar amparadas por práticas sólidas de inovação responsável.

Inovação responsável não é um novo tipo de inovação. É um comportamento. É decidir por que inovar, com quais limites, quem participa, como distribuir benefícios e riscos e quando ajustar ou parar. Esse enfoque desloca a conversa da gestão de riscos para a governança da própria inovação, trazendo perguntas sobre ética, propósito, incerteza, controle e distribuição de benefícios. Inovação responsável é a disciplina de governar a inovação para que seus processos e resultados sejam eticamente aceitáveis, sustentáveis e socialmente desejáveis.

Quatro dimensões

Na prática, o conceito integra quatro dimensões que precisam atuar juntas: antecipação, reflexividade, responsividade e inclusão de stakeholders. Antecipação significa fazer perguntas “e se” e mapear impactos pretendidos e não intencionais. Reflexividade é revisar valores, pressupostos e limites de conhecimento. Inclusão pede trazer, desde o início, usuários, colaboradores e afetados para reduzir pontos cegos e ampliar legitimidade. Responsividade é ter capacidade real de mudar de rota diante de novas evidências e normas.

Quando a governança ignora essas quatro dimensões, a organização inova às cegas. Em contextos de tecnologias emergentes e vácuos institucionais, incentivos fragmentados e a falta de ritos claros produzem irresponsabilidade organizada, quando decisões não são precedidas por precaução, transparência e participação.

dois homens e duas mulheres em uma mesa de reunião em ambiente envidraçado. um dos homens está de pé explicando algo.
Foto: People Images/ Shutterstock

Para executivos e conselhos, o movimento é incorporar essas dimensões ao rito decisório. A recomendação vai na mesma linha do McKinsey Technology Trends Outlook 2025, que aponta os “responsible innovation imperatives” como condição crítica para adoção de tecnologias emergentes. A consultoria reforça que transparência, justiça e responsabilidade não são apenas éticas, mas alavancas estratégicas para escalar com segurança e atrair investimentos.

Na prática, o estabelecimento de uma cadência clara de revisão de projetos; o tratamento, em cada projeto, das dimensões de antecipação, reflexividade, inclusão e responsividade com evidências objetivas; a exigência de artefatos mínimos (avaliação de impacto, trilha de proveniência e licenças, mapa de stakeholders e plano de resposta a incidentes); o condicionamento do avanço por stage gates; a inclusão no dashboard do conselho de métricas de fairness, robustez, segurança e legitimidade, além da rastreabilidade de versões e dados; a definição de papéis claros e de um comitê com voz externa; e a conclusão de cada deliberação com responsáveis, prazos e registro dos trade-offs fazem com que decisão estratégica e responsabilidade caminhem juntas da ideia à escala.

Em síntese, tratar inovação responsável como comportamento evita a armadilha da irresponsabilidade organizada e posiciona a empresa para escalar com legitimidade. Integrar antecipação, reflexividade, inclusão e responsividade aos ritos de governança muda a conversa de slogans para decisões que protegem valor no longo prazo.

(*) Kadígia Faccin, Professora da Fundação Dom Cabral (FDC)

Reprodução de : Seja Relevante

 

 

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