Reconhecendo marcas sustentáveis

(*) Thaisa Bogoni

Existem diversas formas de comprovar se o que as marcas dizem que fazem realmente acontece com seriedade e consistência. Quantas vezes ao fazer compras você lê as embalagens e rótulos dos produtos?

Nos sites, você costuma acessar as páginas “Missão, visão e valores”, “Relatório de Sustentabilidade” ou “Certificações” para conhecer a essência de uma empresa? Pois bem, estas são algumas formas de identificar aquelas que realmente estão comprometidas em realizar ações sólidas para gerar impactos positivos frente aos desafios da agenda ESG.

Criar pontualmente campanhas publicitárias e posts nas redes sociais em datas simbólicas, contratar esporadicamente uma pessoa negra ou PcD para mostrar a diversidade dos colaboradores, apoiar uma ONG na época de Natal ou fazer uma campanha de comunicação interna para economia de água e energia são iniciativas superficiais perto do que se deve ser feito, e muitas vezes corroboram a prática do greenwashing. Vão além de enganar os consumidores em relação à atuação da empresa, pois causam insegurança e confusão que podem afastá-los dos produtos e serviços que são de fato ambientalmente corretos.

Muito do que se é dito pode ser comprovado com números, dados e fatos, que podem ser acessados através de notícias, estudos, relatórios corporativos, selos e certificados emitidos por órgãos que regulam setores da indústria e do varejo. Sobre selos certificações, as empresas costumam despender um grande esforço para obter estas chancelas: precisam se adaptar a diversas exigências, organizar processos e procedimentos, rever políticas e normas, criar documentos, manuais e códigos que garantem a implementação do compliance com ações consolidadas. Também faz-se necessário criar indicadores e mensurar os resultados, para efetivação de melhorias ou correções de rotas, a fim de se alcançar os padrões estabelecidos pelas instituições reguladoras. E como dispõem de prazo de validade, as empresas periodicamente são reavaliadas para atualização das pontuações emitidas.

Alguns exemplos práticos para os consumidores e demais partes interessadas:

  • O selo do Sistema B, que possui cinco categorias de avaliação: governança, trabalhadores, comunidade, meio ambiente e clientes. No Brasil são atualmente 294 empresas cadastradas, que atuam em setores como: alimentos, bebidas, energia, educação, construção civil, higiene e beleza, moda, tecnologia, hotelaria e turismo.
  • A eureciclo auxilia as empresas a cumprirem com o compromisso da Logística Reversa de Embalagens, contribuindo para a cadeia de reciclagem no Brasil. Atualmente são 6.700 marcas que realizam a compensação ambiental de suas embalagens.
  • Já a PETA é considerada a maior organização de direitos dos animais do mundo e seus selos “ApprovedVegan” e “CrueltyFree” garantem não haver testes em animais durante ou após o processo de produção, e atestam ainda a ausência de ingredientes de origem animal em sua composição. Pode ser encontrada em marcas de produtos de alimentos, cosméticos, higiene, limpeza e calçados.
  • Na parte de alimentos há o selo Produto Orgânico do Brasil, organizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que certifica que o produto tem, no mínimo, 95% de ingredientes orgânicos em sua composição, seja ele in natura ou processado. São opções mais saudáveis, sem agrotóxicos e modificações genéticas, obtidos em um sistema orgânico de produção agropecuária não prejudicial ao ecossistema local.

Também existem as certificações concedidas pela International Organization for Standardization:

  • AISO 14001 estabelece diretrizes para sistemas de gestão ambiental (SGA) em empresas e organizações de todos os setores, com o objetivo de gerenciar seus impactos ambientais e promover a sustentabilidade em suas operações.
  • A ISO 14040 é utilizada para avaliar o impacto ambiental de bens e serviços, fornecendo ferramentas para que empresas possam identificar seus impactos ambientais e criar mecanismos para controlá-los, reduzi-los ou até mesmo eliminá-los, permitindo uma convivência harmoniosa entre o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente.
  • A ISO 26000 apresenta recomendações quanto a padrões, procedimentos e boas práticas em programas de sustentabilidade empresarial, traçando diretrizes para ajudar na implantação e desenvolvimento de políticas baseadas na sustentabilidade.
  • A ISO 20400é um padrão que fornece orientação para organizações sobre a integração da sustentabilidade nas compras.

Além de todos estes, o compromisso das empresas com os ODS também pode ser avaliado pela assinatura do Pacto Global da ONU, reconhecida como a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 13 mil membros em 160 países.

Em resumo, a consciência do consumidor que preza por marcas que têm um propósito maior além do lucro, se preocupam em gerar impacto positivo e contribuem com a regeneração do planeta é um exercício, muitas vezes, mais simples do que se parece. Dedicar um tempo conhecendo as atitudes das empresas em prol da sustentabilidade é um hábito que pode ser incorporado no dia a dia com um pouco mais de atenção às pequenas escolhas. Reconhecer e valorizar a prática, além do discurso, está ao nosso alcance e pode sim contribuir para um futuro melhor.

  • Thaisa Bogoni – Conselheira na Filial do Capitalismo Consciente em Belo Horizonte (MG), publicitária, especialista em Marketing e Gestão de Projetos, pós-graduanda em Moda e Sustentabilidade e pesquisadora da área de consumo consciente. Linkedin: Thaisa Bogoni, Instagram: @thabogoni e e-mail: thabogoni@gmail.com.

Reprodução de Diário do Comércio

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